sábado, 27 de dezembro de 2014

RANKING DE LIVROS 2014





 10) Contos de Shakespeare (Charles and Mary Lamb)

 Esta adaptação das peças de Shakespeare para contos está, sem dúvida alguma, entre os dez livros que mais valeram a leitura ao longo do ano de 2014. Na obra, são transpostos para contos, desde os clássicos Romeu e Julieta, até peças menos conhecidas, mas nem por isso menos interessantes, como A tempestade. Recomendo a leitura para aqueles que eventualmente, tenham interesse em conhecer o conteúdo das peças de Shakespeare mas não sejam adeptos ao gênero teatral pela modalidade escrita.

 9) Princesa - a história real das mulheres árabes por trás de seus negros véus (Jean Sasson);

 Neste livro de Jean Sasson o modo de vida mulsumano nos é revelado do ponto de vista de uma mulher que vive sob esta religião. Sultana é uma jovem princesa que decide protestar contra as inúmeras injustiças pelas quais as mulheres do oriente médio passam. É claro que, para lê-lo, faz-se necessário entender o interesse dos Estados Unidos em admitir tal publicação. De qualquer forma, realmente recomendo.

 8) Para minhas filhas (Barbara Delinsky)

 Em oitavo lugar do meu ranking de 2014 apresento-lhes um livro que me surpreendeu pela sua sensibilidade, bem como pelo seu cuidado e atenção com as emoções que conduzem as nossas vidas. O livro de Barbara Delinsky conta a história de uma senhora que decide reunir suas filhas, a fim de lhes contar o seu passado e, por meio dos choques de personalidade das personagens, o livro vai desvendando as facetas da alma humana.

 7) O segredo de meu marido (Liane Moriarty)

 Outro romance igualmente fascinante é "O segredo de meu marido" que mostra a história de um casal que tem um grande segredo entre eles. Após a revelação do segredo, vale a a pena dizer, a autora não perde o ritmo da narrativa, de modo que a história continua interessantíssima para quem o lê. Logo, o o objetivo não é descobrir o segredo que o título ndica,mas sim suas implicações para as vidas dos personagens. "E se...?" É o principal questionamento que o livro nos trás. Recomendadíssimo!

 6) A Chave de Sarah (Tatiana De Rosnay)

 Este livro me fascinou pela capacidade de deixar o leitor suspenso no ar, como se estivesse pendurado por meio de duas cordas que, a qualquer momento, poderiam se romper. Ou, pior que isso, o ser pendurado (não de forma literal, claro) é um ser muito amado, um irmão, talvez. A personagem se vê culpada pelo infortúnio de trancar o irmão em um guarda-roupa na ocasião da invasão da França pelos Nazistas. Ela é levada para um campo de concentração e, a chave do armário, também.

 5) Ecos (Danielle Steel)

 E, iniciando os cinco melhores deste ano, falo de Danielle Steel que, como sempre, me fascina completamente. Outra obra com a temática nazista, Ecos fala da guerra e das consequências para uma família que, embora não saiba, é judia e, portanto, encontra-se na mira dos nazistas. A trama passa por campos de concentração e revela amores improváveis, inclusive em meio as forças de resistência aos nazistas. Recomendo!

 4) Dom Quixote para as crianças (Monteiro Lobato)

 Obra infantil juvenil que mais me encantou ao longo do ano de 2014, "Dom Quixote para as crianças" revela um dos clássicos da literatura universal por meio de uma releitura e consegue ir além da obra original. Envolvente, o livro trás os personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo para as aventuras dos cavaleiros da Europa medieval. Uma das personagens me chamou especificamente a atenção. O autor foi simplesmente magistral.

 3) O retrato de Dorian Gray (Oscar Wild

 Outro clássico, só que este não é releitura. A obra fala do amor e do culto pela beleza. É a arte pela e para a arte. Entretanto, as mazelas da alma humana não deixam de ser reveladas, mesmo que por meio de um quadro, mais revelador que os olhos de qualquer pessoa. O que você faria se a sua alma estivesse esposta em um quadro? A esconderia? É impossível ler este livro e não pensar sobre isso. Recomendo! Certamente, esta obra foi uma das três melhores do ano de 2014.

 2) À Espera de um Milagre (Stephen King)

 Ual! Com certeza uma das minhas melhores experiências literárias. Conheci King nesse ano e confesso que fiquei completamente fascinada com os personagens desta obra, super conhecida. Um homem, no corredor da morte. E, o pior de tudo, inocente. O que faríamos se fôssemos o funcionário responsável por apertar a correia das pernas dele que o prenderia para sempre a um destino horrendo e pavoroso? Como você se sentiria se tivesse que executar um homem completamente inocente e com o coração mais puro que você já tenha conhecido?

 1) Se um viajante numa noite de inverno (Ítalo Calvino)

 E, a minha melhor leitura do ano de 2014 foi, com certeza, "Se um viajante numa noite de inverno" do autor italiano super conhecido por escrever críticas e diversos livros sobre literatura. O livro foi feito para os leitores viciados e que desejem, a cima de tudo, encontrar um livro que fale apenas dos diversos tipos de romances existentes sem prender-se a teorias ou jargões do ramo literário. Ler, apenas pelo prazer da leitura. Um romance sucede o outro nesta trama que, a medida que se desenvolve, deixa o leitor cada vez mais fascinado. Parar de lê-lo é simplesmente impossível. Não sei como pude viver 21 anos de minha vida sem conhecer Ítalo Calvino. Sem dúvida, a melhor descoberta de autor do ano de 2014.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

RESENHA: O RETRATO DE DORIAN GRAY - OSCAR WILDE






"Era verdade que o retrato ainda preservava, sob toda podridão e feiura do rosto, sua marcada semelhança consigo mesmo (...)"


 Imagine que, em um determinado dia, um pintor o aborda e, aos poucos, insinua a possibilidade de passar a sua imagem para um quadro. Imagine, também, que estamos na Inglaterra vitoriana do século XIX e que você, um belo rapaz, terá a oportunidade de registrar a sua imagem para todo o sempre; isso, é claro, em um tempo em que não se poderia nem se quer sonhar com máquinas fotográficas. Entediado, e sem maiores perspectivas de mudanças em sua vida, você aceita a oferta. Entretanto, após a pintura, ao se mirar no quadro, você se apaixona pela imagem que ele retrata e que, seu único desejo, naquele instante, era que, tal como a imagem retratada no quadro, sua aparência jamais se modificasse. Agora, imagine se isso, de fato, viesse a acontecer... O quadro, porém, não absorve somente as rugas que os anos lhe infringem, mas sim as mazelas e obscuridades da alma humana. Como seria este quadro?

 É exatamente a partir deste ponto de reflexão que Oscar Wilde obtém a ideia de escrever o livro "O retrato de Dorian Gray", história de um jovem que, após ser retratado pelo pintor Basil Hallward se apaixona pela própria imagem e, deseja, do fundo de seu ser, que o quadro envelheça, pois, segundo Gray:


 "- Tenho ciúmes de tudo cuja beleza não morre. Tenho ciúmes do retrato que você pintou de mim". Porque eu deveria guardar o que seguramente perderei? Cada momento que passa leva algo de mim e dá algo a ele. Oh, se pudesse ser o inverso! Se o retrato pudesse mudar e eu puder sempre ser o que sou agora! Por que você o pintou? Ele zombará de mim, algum dia - zombará terrivelmente!"

 O que era para ser um desejo de eterna alegria e juventude, torna-se um martírio para o belo jovem. Aos poucos, vira um pesadelo. Com o passar do tempo, o retrato se torna cada vez pior. Conforme a vida dupla do personagem vai se consolidando como parte de seu ser, a podridão do retrato torna-se mais assustadora e visível.

 Há, na obra, diversas insinuações de atividades ilegais, tais como assassinatos, que o jovem Gray poderia estar realizando, enquanto mantinha sua vida de aristocrata e, ao mesmo tempo, frequentador das casas de teatro mais pobres da cidade. Seus crimes, logicamente, atingiam as classes menos abastadas e que não possuíam meios de se defender. Entretanto, a dupla atividade do rapaz vai se refletindo gradualmente no retrato, enquanto este fica a cada dia mais terrível, na mesma proporcionalidade em que o jovem se torna cada vez mais belo.

 Dorian escondia o retrato no porão de sua casa, tal como, com frequência, fazemos com as nossas falhas, e o mantinha coberto por um pano grosseiro. Entretanto, era frequentemente atormentado pela possibilidade da exposição das mazelas de sua alma, tal como se pode notar na passagem a seguir:

 "Às vezes, quando ele estava em sua grande casa em Nottighamshire, entretendo os sofisticados jovens de sua mesma posição social, que eram seus principais companheiros e surpreendendo o condado com a sua devassa luxúria e belo esplendor de seu modo de vida, repentinamente deixava seus convidados e corria para a cidade, para ver se a porta não havia sido violada e se o retrato ainda estava lá. E se ele fosse roubado? O mero pensamento o fazia gelar de horror. Certamente o mundo descobriria seu segredo, então. Talvez o mundo já suspeitasse dele"".

 Por meio de Lord Henry Wotton o autor nos mostra a base do esteticismo, uma escola artística que defendia a arte de e para a arte. Defendia o culto ao belo e ao artístico. Por conta disso, a beleza do jovem Gray pode ser tida como o ponto principal do romance. Henry é apresentado a Dorian no dia em que Basil finaliza o seu retrato e, de forma bastante sarcástica, defende seus pontos de vista e o culto à beleza e à juventude. Há, entretanto, uma leve insinuação de um relacionamento entre os três personagens (não de forma conjunta) que parece bastante ousada para a época em que a obra foi redigida. Tanto isto é real, que a primeira versão publicada sofreu diversos cortes pelo editor. A versão lida por mim contém os trechos censurados, os quais, em si, contêm apenas insinuações de tal relacionamento.

 Ainda acerca dos relacionamentos, vemos o encantamento do jovem Gray pela atriz Sybil Vane, uma atriz dessas casas de teatro das classes mais pobres. A adoração que Dorian sente pela jovem, reflete, e muito, o culto pela beleza que Oscar Wilde quer representar na obra.

 Não sei dizer exatamente se esta pode ser tida como uma obra de terror, a não ser pelas cenas que dizem respeito às mudanças que o retrato sofre, bem como o grande final que Wilde soube dar para a obra. Entretanto, não existe a possibilidade de ler este livro e imaginar o quanto de Gray carregamos conosco ou, como seria nossa vida se tivéssemos a alma exposta em um retrato pintado à óleo.