quarta-feira, 6 de agosto de 2014

RESENHA: A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Posso iniciar dizendo que sim, definitivamente, duvido que algum dos outros livros colocados em votação seria mais apropriado à temática que o vencedor. Se o lermos enquanto crianças, talvez nos percamos um pouco nas indiretas, mas a mensagem principal - creio - pode alcançar até mesmo os ouvidos de uma criança que, embora não entenda de política, entende de autoridade. Mas, se um adulto se aventurar pelas suas páginas - repletas de lutas - encontrará mensagens muito diretas acerca do que acontece quando passamos de um para outro regime autoritário.
 Tudo começou quando o velho Major, um porco já muito idoso - conforme se pode deduzir pela forma que o chamam -, decide reunir todos os bichos da Granja do Solar e contar sobre o misterioso sonho que tivera. Ele aproveita a oportunidade para ensinar aos animais da fazenda a música "Bichos da Inglaterra" que acaba se tornando uma espécie de hino da revolução para o animalismo (movimento criado pelos bichos após a morte do Major).
 Algum tempo depois da morte do velho porco, os animais decidem que a granja lhes pertence de direito, e, levados por forças circunstanciais de falta de alimento, decidem tomar a fazenda a qual, pode-se compreender como a Rússia, visto que todos sabem da relação existente entre este país e o livro aqui discutido. Com o tempo, a Granja do Solar passa a ser conhecida - inclusive pelos humanos - como Granja dos Bichos e, é nela onde os animais iniciam um dos regimes mais autoritários já visto pelos animais, sejam eles racionais ou não.
 A partir da tomada da fazenda pelos bichos pode-se concluir, erroneamente, que todos estariam livres e, sim, iriam trabalhar em benefício da causa em que estavam envolvidos. Os porcos, entretanto, decidem assumir o poder e, aproveitando-se da sua incrível capacidade de manipulação, dominam a granja e acabam colocando os bichos em um regime ainda mais autoritário que o anterior.
 O que é verdadeiramente interessante de se observar neste livro, são os meios utilizados para que este domínio fosse possível. Os animais eram favoráveis a Bola-de-Neve, um dos porcos - o mais democrático e que realmente parecia querer fazer algo justo -; No entanto, após a expulsão deste indivíduo, os novos governantes tratam de apagar suas influências nas lembranças afetivas dos bichos da granja. Nota-se, por tanto, uma necessidade do poder em utilizar-se dos anseios dos indivíduos para a satisfação e promoção própria.
 Se olharmos com bastante atenção, podemos encontrar as analogias com todas as formas de domínio já conhecidas pela espécie humana. E, tudo isso a tal ponto, que não se pode mais distinguir homens de porcos, tal como se nota no livro.
 Gostaria que esta postagem não fosse intendida como uma análise sobre as indiretas contidas na obra, mas um convite para mergulharmos em um mundo no qual a ficção se restringe apenas à natureza dos personagens.
 Quero finalizar esta tentativa de resenha com minhas duas citações favoritas do livro:


"“O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o suficiente para alcançar uma lebre.  Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. Põe-nos a trabalhar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante. Nosso trabalho amanha o solo, nosso estrume o fertiliza e, no entanto, nenhum de nós possui mais do que a própria pele".


 "Quitéria ficou com os olhos cheios de água. Se pudesse exprimir seus pensamentos, diria que aquilo não era bem o que pretendiam ao se lançarem, anos atrás, ao trabalho  de derrubar o gênero humano. Aquelas cenas de terror e sangue não eram as               que previra naquela noite em que o velho Major, pela primeira vez, os instigara à rebelião".