Tudo começou quando o velho Major, um porco já
muito idoso - conforme se pode deduzir pela forma que o chamam -, decide reunir
todos os bichos da Granja do Solar e contar sobre o misterioso sonho que tivera.
Ele aproveita a oportunidade para ensinar aos animais da fazenda a música
"Bichos da Inglaterra" que acaba se tornando uma espécie de hino da
revolução para o animalismo (movimento criado pelos bichos após a morte do
Major).
Algum tempo depois da morte do velho porco, os
animais decidem que a granja lhes pertence de direito, e, levados por forças
circunstanciais de falta de alimento, decidem tomar a fazenda a qual, pode-se
compreender como a Rússia, visto que todos sabem da relação existente entre este
país e o livro aqui discutido. Com o tempo, a Granja do Solar passa a ser
conhecida - inclusive pelos humanos - como Granja dos Bichos e, é nela onde os
animais iniciam um dos regimes mais autoritários já visto pelos animais, sejam
eles racionais ou não.
A partir da tomada da fazenda pelos bichos pode-se
concluir, erroneamente, que todos estariam livres e, sim, iriam trabalhar em
benefício da causa em que estavam envolvidos. Os porcos, entretanto, decidem
assumir o poder e, aproveitando-se da sua incrível capacidade de manipulação,
dominam a granja e acabam colocando os bichos em um regime ainda mais
autoritário que o anterior.
O que é verdadeiramente interessante de se
observar neste livro, são os meios utilizados para que este domínio fosse
possível. Os animais eram favoráveis a Bola-de-Neve, um dos porcos - o mais
democrático e que realmente parecia querer fazer algo justo -; No entanto, após
a expulsão deste indivíduo, os novos governantes tratam de apagar suas
influências nas lembranças afetivas dos bichos da granja. Nota-se, por tanto,
uma necessidade do poder em utilizar-se dos anseios dos indivíduos para a
satisfação e promoção própria.
Se olharmos com bastante atenção, podemos
encontrar as analogias com todas as formas de domínio já conhecidas pela
espécie humana. E, tudo isso a tal ponto, que não se pode mais distinguir
homens de porcos, tal como se nota no livro.
Gostaria que esta postagem não fosse intendida
como uma análise sobre as indiretas contidas na obra, mas um convite para mergulharmos
em um mundo no qual a ficção se restringe apenas à natureza dos personagens.
Quero finalizar esta tentativa de resenha com
minhas duas citações favoritas do livro:
"“O
Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos,
é fraco demais para puxar o arado, não corre o suficiente para alcançar uma
lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos
os animais. Põe-nos a trabalhar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a
inanição e fica com o restante. Nosso trabalho amanha o solo, nosso estrume o
fertiliza e, no entanto, nenhum de nós possui mais do que a própria pele".
"Quitéria ficou com os olhos cheios de
água. Se pudesse exprimir seus pensamentos, diria que aquilo não era bem o que
pretendiam ao se lançarem, anos atrás, ao trabalho de derrubar o gênero humano. Aquelas cenas de
terror e sangue não eram as
que previra naquela noite em que o velho Major, pela primeira vez, os instigara
à rebelião".